quinta-feira, 19 de maio de 2011


"Escrever, reflecti, deve ser um acto despido de vontade. A palavra, como a profunda corrente oceânica, deve subir à superfície impelida pelo seu próprio impulso. Uma criança não tem necessidade de escrever, é inocente. Um homem escreve para se libertar do veneno que acumulou, em consequência do seu falso modo de vida. Tenta recapturar a sua inocência, mas só consegue (escrevendo) inocular na palavra o vírus da sua desilusão. Nenhum homem escreveria uma palavra se tivesse a coragem de viver de acordo com aquilo em que acredita. A sua inspiração é desviada do verdadeiro caminho logo na origem. Se é um mundo de verdade, beleza e magia que deseja criar, porque coloca milhões de palavras de permeio, entre ele e a realidade desse mundo? Porque protela a acção, a não ser que, como outros homens, aquilo que realmente aspira seja poder, fama e êxito?"
 
Henry Miller, in Sexus.

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